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            Ao final da temporada das apresentações, o boi retira-se do espaço público e se prepara para a morte, última etapa do ciclo ritual.

            

           O último ato do Ciclo Ritualístico – A Morte do Boi – acontecerá na primeira semana se setembro, semana da Pátria, e será realizada durante 03 (três dias) no Terreiro do Boi (Terreiro Cultural Zuza Lobato) em Morros - MA.     

           

            Exausto da longa temporada de apresentações e contente pelo regresso à comunidade, o Bumba-Meu-Boi retorna como um ente simbólico ainda mais especial. Ao ser batizado pelo dom de São João, transforma-se de pagão em cristão, adquirindo o direito e a proteção para se apresentar no espaço público. Ao regressar conquista a maturidade da existência plena e a sabedoria necessária para conscientizar-se de que é chegada a hora da sua morte.

        

         Uma morte prevista em todos os detalhes para ser uma festa, mas uma festa de natureza ambígua que revela os sentimentos contraditórios que tomam conta do grupo, entre o fim próximo e o retorno ainda distante. Mais do que em qualquer outro momento, é na morte que o caráter profano junta-se ao sagrado numa dialética que celebra os dois polos contrários primordiais à existência.

           

            A Ritual de Morte do Boi leva normalmente quatro dias para ter início, meio e fim, dividida em quatro atos, tempo suficiente para celebrar a consagração de uma união tecida ao longo da existência do boi.

1º Ato -  Noite do acender fogueira

            Nesta noite, é realizada uma Missa em Ação de Graças em agradecimento a temporada junina que se passou e um pedido de bênçãos e proteção para a realização do todo o ritual de morte do Boi. Todas as músicas são tocadas em ritmo de bumba-meu-boi, músicas litúrgicas compostas pelo presidente do grupo. Logo após a missa, é realizado o ato de acender a fogueira, uma pilha de fogo que se manterá acessa durante todo o Ritual de Morte. A noite conta com a participação de grupos folclóricos e banda musical. 

            

2º Ato - Tira Sorte do Boi

              A partir desse momento começa a saga do Boi. Como o boi sabe do seu destino, ele se prepara para morrer resistindo contra tudo e contra todos embora saiba que todo o esforço não muda o que já está previsto. Assim, na primeira noite, o grupo dança em cada casa da comunidade, numa lenta despedida e num eterno chorado. Cada participante é também um brincante que se despede do boi num adeus breve, chorando o fim da união que garante a irmandade.

 

3º Ato - Ritual Mágico de Morte

              O segundo dia da cerimônia começa com a montagem do mourão, que vai ser fincado no centro do terreiro e simboliza o retorno ao centro, à origem, à matriz. O boi é conduzido de volta ao terreiro, ainda resistindo, onde chega entre a alegria e a tristeza, afoito e submisso, touro e cordeiro. O Boi vai então de brincante em brincante urrando num choro lamentoso de morte, passando pelo mourão para tentar derrubá-lo por tudo o que este representa para a sua morte e chega contrito aos pés do amo para ser afagado pela última vez. Ele só se submete ao seu dono que é o último a usar o laço num golpe certeiro. Já laçado, abaixa-se à espera do golpe final.

           

4º Ato - Derrubada do Mourão

              O último dia da cerimônia prossegue em uma  animação até o final da tarde quando o mourão é desterrado ao som da ladainha e seus enfeites distribuídos à comunidade, numa tremenda festa. Um ritual que significa o fim do ciclo e, portanto, do retorno às origens mas também a regeneração necessária à criação do próximo boi.

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